![]() |
Foto: Reprodução/Facebook |
Há pouco mais de uma semana, o estudante de medicina Paulo
Henrique Matias estava em um hipermercado na região de Assunção, capital do
Paraguai. Em um corredor, dispostas em ‘araras’, estavam dezenas de camisas dos
Correios, o clássico uniforme amarelo e azul usado por carteiros de todo o
Brasil.
“Achei muito curioso, mas na hora eu estava com pressa. Uns dias depois eu
estava mais tranquilo, fazendo compras com a minha família, e as camisas
continuavam lá”, conta Matias, que tomou um uniforme nas mãos, tirou uma foto e
publicou no Facebook. Ontem a postagem já tinha mais de 3,6 mil
compartilhamentos
O mistério nas redes sociais é o mesmo que agora
move uma investigação dos Correios com apoio da PF (Polícia Federal): afinal,
como os trajes dos trabalhadores postais no Brasil estavam à venda em um
comércio paraguaio pela bagatela de 18 mil Guaranis (cerca de R$ 10 no câmbio
atual)?
Matias disse ter alertado a gerente de que eram
roupas de uma empresa pública brasileira, e ela “prontamente” recolheu todas. O
mercado teria comprado as peças de uma empresa importadora de vestuário do
Paraguai, com a qual o Metro Jornal não conseguiu contato até a noite de ontem.
Estoque
ocioso
As etiquetas que aparecem nas fotos mostram camisas
de pelo menos duas confecções, ambas do interior do Paraná: a B2, de Apucarana,
e a Janbonés, de Jandaia do Sul.
Segundo o portal da transparência dos Correios, a
última vez que uma delas forneceu camisas à estatal foi em 2013. Essa data –
mais o fato de as roupas estarem com a logomarca antiga, aposentada no ano
seguinte – indica que são uniformes velhos.
Os Correios afirmaram que “possuem processos
rígidos de destinação correta dos materiais que não estão mais em uso,
garantindo a descaracterização dos uniformes antes do descarte”.
Na prática, porém, nada impede que haja centenas de
uniformes usados em circulação. A cada três meses, em média, os carteiros
ganham novos kits – três camisas, três calças, tênis, cinto e meias – e nem
sempre devolvem os antigos após o uso.
“Eles [a administração] pedem para devolver. Mas
pouca gente devolve. E eles não cobram essa devolução. Apenas pedem para
devolver”, conta Fabiano Batista, dirigente do Sintcom-PR (Sindicato dos
Trabalhadores nos Correios do Paraná).
Apenas nos contratos de 2017, os Correios compraram
17.575 novas camisas. O preço unitário variou entre R$ 11,40 e R$ 11,81, ou
seja, um pouco mais caro do que as vendidas no Paraguai. As compras são feitas
pela administração central dos Correios, em Brasília, que distribui o material
para todas as unidades do país.
Em 2016, foi identificada no portal a compra de
mais de 213 mil camisas, somando as de manga curta e manga longa – ambos os
tipos, alguns com etiqueta arrancada, estavam disponíveis no mercado paraguaio,
diz Matias.
Na Polícia Federal ninguém quis comentar o assunto.
Apesar de já haver uma investigação, Matias diz que ainda não foi procurado por
autoridades policiais para falar sobre o caso.
Procurada, a empresa B2 negou ter vendido camisas
para fora dos Correios e diz que auxilia as investigações. Já a Janbonés
afirmou ter sido orientada pelos Correios a não se manifestar.
Mercado
teria feito muitas vendas
O baixo preço das camisas – cerca de R$ 10 pela de
manga longa e R$ 8 pela de manga curta – fez com que várias tivessem sido
vendidas no Paraguai até a intervenção de Matias, segundo o estudante. Os
uniformes estariam no local há cerca de um mês.
“Cheguei a comprar uma camisa – e depois devolvi –
para gravar um ví- deo mostrando o comércio”, diz Matias.
Uniformes de carteiros e de outros funcionários
públicos, falsos ou verdadeiros, costumam ser usados no Brasil para a prática
de golpes ou assaltos.
Sobre as investigações, os Correios afirmam que
“apuram os fatos internamente e com a PF para que sejam punidos quaisquer
envolvidos”.
Fonte: Metro Jornal Curitiba

0 comentários :