![]() |
Arquivo/Agência Alagoas |
Em 20 de novembro é comemorado no Brasil o Dia da
Consciência Negra. A data foi escolhida para lembrar a morte de Zumbi dos
Palmares, uma das principais lideranças negras da história do país. O nome faz
referência ao Quilombo dos Palmares, maior espaço de resistência de escravos
durante mais de um século no período colonial (1597-1704).
A região que acolhia o núcleo do quilombo, Serra da Barriga,
em Alagoas, ganhou reconhecimento internacional. Neste sábado (11), será
oficializada a certificação da área como patrimônio cultural do Mercosul. O
título só foi conferido até agora a dois bens no país: a Ponte Internacional
Barão de Mauá, ligação entre as cidades de Jaguarão, no Brasil, e Rio Branco,
no Uruguai; e a região das Missões, que abrange cinco países (Brasil,
Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia).
![]() |
Foto: Divulgação Fundação Cultural Palmares |
A Serra da Barriga foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1985. Em 2007, foi aberto o Parque
Memorial Quilombo dos Palmares, próximo à cidade de União dos Palmares, a cerca
de 80 quilômetros da capital do estado, Maceió. O projeto envolveu a construção
de instalações em referência a Palmares, como a casa de farinha (Onjó de
farinha), casa do campo santo (Onjó Cruzambê ) e terreiro de ervas (Oxile das
ervas). O espaço ainda é o único parque temático voltado à cultura negra no
Brasil e recebe anualmente cerca de 8 mil visitantes.
Visibilidade
Para Marcelo Britto, do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), o título de patrimônio cultural do Mercosul
significa um reconhecimento internacional importante e também pode estimular a
visibilidade da área por brasileiros que ainda a desconhecem.
“Um aspecto importante é a dinamização econômica, uma vez
que o bem cultural ganha uma visibilidade para uma projeção de caráter nacional
e internacional. Isso favorece iniciativas que tendem a promover o turismo
cultural, a geração de empregos que podem ocorrer relacionadas a isso”, afirma.
Referência histórica
![]() |
Foto: Divulgação/Governo Brasil |
O Quilombo dos Palmares surgiu no século 16. Residiam nele
escravos fugidos das capitanias da Bahia e de Pernambuco. O local chegou a
reunir até 30 mil pessoas no seu auge, no século 17, e era organizado em
pequenos povoados, chamados de mocambos. Os principais eram Cerca Real do
Macaco, Subupira, Zumbi e Dandara. O maior deles chegou a ter 6 mil pessoas,
quase a mesma população do Rio de Janeiro à época.
Esses mocambos constituíam uma espécie de república. As
decisões políticas eram tomadas pela reunião da liderança de cada um deles em
conjunto com o chefe supremo. Essa posição de comando foi ocupada por
Acotirene, sucedida por Ganga Zumba e, depois, por Zumbi. No tocante às relações
afetivas, Palmares era uma sociedade poliândrica, em que mulheres podem ter
relação com diversos homens.
Segundo Zezito de Araújo, professor de história e supervisor
de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, Palmares ainda é
lembrado muito pela dimensão do conflito, mas deveria ser conhecido por ter
sido o primeiro grande movimento de resistência das Américas no período
colonial e pela sua organização política.
“A Revolução Francesa é tida como o símbolo da liberdade,
mas a luta de Zumbi aconteceu antes. Enquanto em Palmares tínhamos propriedade
coletiva, produção para subsistência e para troca, na colônia tínhamos
atividade agrícola para exportação e escravidão como base do trabalho. São
sociedades opostas”, analisa.
Melhorias no espaço
Na opinião do presidente do Conselho de Promoção da
Igualdade Racial de Alagoas, Elcias Pereira, o título de patrimônio cultural
será uma oportunidade importante de qualificar o espaço no momento em que o
parque memorial completa 10 anos. “Recebendo esse título pode haver a melhoria
dos equipamentos. Nestes últimos 10 anos, os investimentos não foram feitos
como deviam. O acesso precisa ser arrumado, pois durante boa parte do ano há
problema para chegar em razão das chuvas”, aponta Pereira.
Segundo Carolina Nascimento, diretora de Proteção ao
Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, responsável pelo
parque nacional, ajustes e melhorias no espaço serão feitas a partir de um
conjunto de iniciativas que já começaram a ser debatidas em uma oficina
realizada neste ano em Maceió.
Entre as ações previstas estão a instituir um comitê gestor
da Serra da Barriga, analisar a capacidade de recebimento de pessoas,
reassentar algumas famílias ainda resistentes na área, implantar unidades de
conservação ambiental, elaborar um plano de conservação e criar um centro
internacional de referência da cultura negra.
“Neste momento em que casos de racismo estão se acirrando, o
reconhecimento deste bem cultural é uma forma de combater a discriminação
racial e valorizarmos a cultura afro-brasileira”, diz a diretora da fundação.
Fonte:
0 comentários :